quinta-feira, agosto 28, 2014

ARGOLINHAS (DA MINHA MÃE)




Estava daqueles dias nostálgica, com uma enorme saudade dos meus pais. Na véspera tinha estado a falar com o meu filho sobre o meu pai, sobre situações que enquanto somos novos e temos a "mania" que sabemos tudo. Com o caminhar na estrada da vida comprovamos que estávamos enganados (enganada, eu). :( Mas como disse, estava com saudades, aliás as saudades não me abandonam. A vida vai-se levando, mas há sempre um vazio, eu continuo com esse vazio. Não vos quero chatear com as minhas nostalgias, mas já disse várias vezes a minha mãe era uma cozinheira de mão cheia, tudo o que ela fazia era um manjar dos Deuses, mas nunca foi muito de doces, na minha memória não tenho grandes lembranças, a não ser do doce de tomate da minha mãe que era de se comer ajoelhada, do arroz doce, bolo de bolacha, fatias paridas e destas argolinhas que desde que me conheço por gente que via a minha mãe fazer. Era uma alegria quando eu via a minha mãe a separar os ingredientes e vê-la a colocar a farinha em monte na bancada, só podia ser as argolinhas ou os famosos pasteis de massa tenra que a minha mãe fazia. Mas se na véspera não tinha sido cozido à portuguesa nem carne estufada (sim, ela fazia os pasteis com a carne que sobrava) só podia ser as argolinhas, e a Belinha (eu) pequena que mal chegava à banca da cozinha ia logo buscar o meu banquinho  para a ajudar a minha mãe, ela dava-me massa para eu esticar ou enrolar o caso destas argolinhas. Nunca vi a minha mãe pesar ingredientes tinha uma balança de cozinha mas nem sei se alguma vez pesou alguma coisa, depois a balança desapareceu (com certeza deu) a minha mãe fazia tudo a olho, a experiência já era mais que muita. Quando fiz o blog de culinária, ouve um dia que lhe pedi: mãe dê-me a receita das argolinhas que a mãe faz! A minha mãe disse logo a receita mas sem quantidades. :) Ok mas e as quantidades mãe? A mãe faz tudo a olho, tens que estar ao pé de mim e ires pesando ou medindo para saberes as quantidades. Tudo bem. Só que entretanto o  meu pai adoeceu, nem nunca mais me lembrei das argolinhas, depois foi a partida dele e logo de seguida a doença da minha mãe que as argolinhas ficaram esquecidas no tempo. Neste dia de nostalgia, lembrei-me já tinha falado com a minha filha destas argolinhas, nem foi tarde nem foi cedo, fui para a cozinha e fui fazer, as quantidades fiz as minhas, a maneira de executar foi como a minha mãe fazia.



Na banca da cozinha coloquei a farinha 300g com uma colher de café mal cheia de fermento. Fiz um buraco no meio onde coloquei 50 g de manteiga amolecida e um ovo. Fui envolvendo com as mãos onde fui juntando leite pouco a pouco (ao todo 3 colheres de sopa) para fazer uma massa homogénea, ainda juntei mais duas colheres de sopa de farinha até encontrar a tal textura da massa, sem se pegar às mãos e banca. Fiz rolinhos de massa que depois uni com um "estilo" de laço. Levei a fritar em óleo quente até aloirarem. Escorri em papel de cozinha e depois foi envolver em açúcar e canela. As argolinhas da minha mãe ficavam todas do mesmo tamanho, tal era a sua destreza com a massa, as minhas ficaram de vários tamanhos. O importante, tive um "momento" com a minha mãe, onde está deve-se ter rido com a minha falta de jeito a fazer os lacinhos. Obrigada mãe.

"Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos."

(Bob Marley)