sábado, maio 11, 2013

A HISTÓRIA DO CAFÉ [PARTE 1]


                          (Imagem retirada na net)
Estava eu a fazer uma receita do meu livro «Paixão pelo Café» quando me recordei, no dia que comprei o livro, antes de fazer qualquer receita li a Introdução que é «A história do café», gostei e muito, então passado este tempo pensei em partilhar com os meus seguidores. Vou partilhar em 3 faces, pois é bastante extenso, não quero maçar. Quem gostar, óptimo, quem não interessar, já sabem, mandam para canto, ok?

A história do café começa com uma lenda curiosa, que situa a sua descoberta na Abissínia, a actual Etiópia. A palavra café deriva da cidade abissínia de Kaffa, onde teve a sua origem. Lendas do Médio Oriente falam de uma bebida escura que inspira amor e lealdade, cura doenças, revigora as forças e permite longas noites de oração e meditação.
 
Um dos mitos sobre o início do consumo humano deste grão conta que o pastor chamado Kaldi, cansado e com um rebanho esfomeado, deixou as suas cabras saciarem-se do fruto vermelho de uns arbustos silvestres parecidos com o loureiro, hoje conhecidos como «café Arábica». Inquieto com a alteração de comportamento do rebanho, que pouco tempo depois de consumirem as bagas dava mostras de aguentar o sol escaldante sem sentir o mínimo cansaço, decidiu provar também aquela planta mágica. Foi dessa forma que descobriu o poder enérgico daquelas bagas, que surtiram nele um efeito tão poderoso como no rebanho.

O mesmo aconteceu a um certo monge que, no caminho para o convento, colheu alguns desses frutos e os secou para os poder transportar mais facilmente para o convento. Aí, ofereceu-os como uma pequena ajuda para as orações nocturnas. Começou assim a difundir-se o consumo desta bebida nos mosteiros da zona e, ao mesmo tempo, nas mesquitas e áreas muçulmanas onde o consumo de álcool não era permitido.
 
Em determinada altura, o café em grão viajou da Etiópia para a Península Arábida do lémen, onde começou a ser cultivado. Foi aí que a variedade de café Arábica adquiriu o seu nome. O café foi exportado pela primeira vez de Moca, um dos portos deste país árabe cujo costa se encontra na confluência do mar Vermelho com o golfo de Áden. No século XVI foi levado para a Turquia e para o resto do Império Otomano. Ali se começou a cozinhar ou a torrar em fogueiras, onde adquiriu um aroma e cor maravilhosos, que se espalharam pelos ares das terras muçulmanas, transportando segredos de saúde, força e virilidade. Nessa altura, já se bebia um café semelhante ao que se consome hoje a nível mundial. Dali continuou a sua expansão até à Pérsia, ao Egipto e à Síria.
  
No século XVI, o café atravessou as terras do Médio Oriente em direcção a norte e chegou à Europa através dos comerciantes venezianos. A elite europeia recebeu o grão de café torrado, que não se podia cultivar, como um presente digno da realeza. Inicialmente, tentou-se guardar o mistério desse grão, quase sagrado, como sinal de superioridade e força, já que as suas propriedades curativas se tornaram muito atraentes para as altas esferas políticas e religiosas da Europa. Com o apoio da Igreja Católica e, mais tarde, com a bênção do papa Clemente VIII, a bebida difundiu-se rapidamente no continente europeu, mas devido ao seu preço elevado, o seu consumo começou por estar limitado às esferas abastadas e poderosas, que incluíram estudiosos, artistas, intelectuais e eruditos. Em finais do século XVII impõe-se por toda a Europa a moda das «cafetarias» ou «cafés» e, dessa forma, o café adquiriu uma cotação de bom serviço e de boas vindas.
  
Atribui-se aos Holandeses o cultivo do café e a introdução da planta nas suas colónias asiáticas do Ceilão e da Indonésia. A França e a Inglaterra terão feito o mesmo nas suas colónias. Diz-se que foi através das suas plantações em Java que os Holandeses introduziram a cultura do café nas suas colónias das Caraíbas, de onde passou para o Brasil e dali para a Venezuela e para a Colômbia.
  
Também está escrito que um capitão da infantaria francesa transportou num navio quinze pés de café dos quais só um sobreviveu ao acidentado trajecto. Nessa pequena planta poderá ter origem todo o café hoje cultivado na América do Sul e Central: em mais ou menos trinta anos, a família do pé de café original terá passado da Martinica para a República Dominicana e depois para Porto Rico, transformando-se numa das principais culturas da América Central.
  
Segundo *José Chalarca «para alguns, as primeiras sementes ou plantas entraram pelo oriente em territórios dos departamentos do Norte de Santander e Santander, vindos da Venezuela; para outros, o cafezeiro chegou pela região de Urubá, vindo da América Central. A versão mais autorizadas sobre a plantação das primeiras sementes de café em território colombiano é a de jesuíta espanhol José Gumilla, que na sua obra El Orinoco Ilustrado consigna o cultivo da planta na missão de Santa Teresa de Tabage, fundada pela companhia na desembocadura do rio Meta, no Orinoco, por volta de 1730». Segundo os especialistas, os jesuítas levaram, sem demora, as sementes do café para Popayán e em 1736 começaram a semeá-las num seminário existente naquela cidade.

«São muitas as notícias do cultivo do café em diferentes regiões do país durante o século XVIII; o vice-rei Caballero y Góngora, em carta de 1987, afirma que o café se produz bem em todas as regiões de Girón (Santander) e Muzo (Boyacá), mas a cultura industrial da planta só se iniciou por volta da terceira década do século XIX, já que a primeira exportação registada com a cifra de 2592 sacos de 60 kg data do ano de 1835. Também é certo que nessas culturas comerciais se realizaram primeiro no Leste do país, na região que hoje ocuparam os Santanderes», escreve Chalarca.

(*José Chalarca, Vida y hechos del café em Colombia, Bogotó, Presencia Editores, 1998.)

Uma história de amor levou o café da Guiana Francesa para o Brasil. O coronel português Francisco de Melo Palheta foi enviado à Guiana para resolver uma disputa fronteiriça entre ambos os países, mas acabou por envolver-se sentimentalmente com uma mulher. No momento da partida, ela ofereceu-lhe um ramo de flores que escondia sementes férteis da planta do café. Assim, terá nascido a indústria brasileira do café. A planta adaptou-se muito bem às condições locais: em 1938, o Brasil já tinha um superavit de café tão considerável que o governo pediu à companhia Nestlé para o ajudar a conservar os excedentes. A companhia suíça criou o processo de secagem por congelação, dando assim origem ao Nescafé. Antes disso, em 1901, um cientista de Chicago, um americano de ascendência japonesa chamado Satori Kato, criara o primeiro café-solúvel instantâneo.

No dia 16 de Março de 1780, o café entrava pela primeira vez no Paraná. A quantidade importada de Cartagena, na Colômbia, foi cerca de vinte e cinco libras, provalmente em semente. O primeiro registo de um cafezeiro no Panamá data de 1790, na herdade de D. Pedro de Ayarza no porto caribenho de Portobello. Em 1822, abriu a primeira loja de café no Paraná e pouco depois, em 1836, ocorreu a primeira exportação de oito quintais provenientes de Chiriquí. Já em finais do século dá-se início à cafeicultura na zona chiricana, onde em 1882, se colheram dois mil quintais de café, numa extensão de trezentos e oitenta hectares. No Panamá, o café passou por épocas difíceis, por se tratar de um território pequeno. O país teve de intruduzir alterações na cultura e concentrar-se no mercado de café especiais, cafés excepcionais e cafés biológicos.

A história do café na Costa Rica remonta aos finais do século XVIII. Segundo conta numa carta enviada por um comerciante panamiano, Agustín de Gana enviou duas libras de café ao governador do país, D. José Vásquez y Téllez. O primeiro a praticar a cultura do café terá sido o padre Feliz Velarde. Sabe-se que a planta florescia no seu solar em 1816, e que envolveu de tal forma os vizinhos nessa cultura que em 1820 fez a sua primeira exportação de um quintal de café para o Panamá. Em 1832, o comerciante alemão Jorge Steipel exportou café da Costa Rica para o Chile, onde o produto foi reembalado e vendido para Inglaterra com o nome de «café chileno de Valparaíso». Mariano Montealegre, um produtor visionário e impulsionador do cultivo entre 1830 e 1840, exportou para Inglaterra, pela primeira vez, em 1843, cinco mil e cinco sacos com cem libras de café.

Desde 1989, que só as variedades arábicas podem ser semeadas na Costa Rica. Actualmente, semeiam-se e colhem-se à mão mais de cem mil hectares de café, que produzem cerca de dois milhões e meio de sacos de sessenta quilos  por ano.

Desde o início que o café foi considerado uma bebida estimulante, que além de fornecer energia e vitalidade, ajudava a ultrapassar certas doenças, a encarar a vida numa perspectiva mais optimista e a adquirir um nível intelectual e criativo mais elevado. A ele se assacou também alguma responsabilidade na particular sensibilidade e virilidade atribuída aos habitantes do Médio Oriente. No entanto, e em conformidade com a ideia de que tudo o que é bom tem um lado mau, o café nos tempos de Constantinopla também foi alvo de reacções negativas e chegou a ser proibido, tanto pelas leis islâmicas como católicas. Tentou-se eliminar o seu consumo, escondendo o pequeno grão de café, oferta sagrada que emerge da terra de forma selvagem, seja em condições rigorosas, de grande aridez, seja em climas tropicais. Contudo, a perseverança dos homens superou a força de quem tentou impedir a sua divulgação, e permitiu conservar essa bebida deliciosa, natural e reconfortante, que nos ajuda a começar o dia e que proporciona ao trabalhador nocturno a mesma energia que sentiram as cabras do rebanho etíope que o provaram pela primeira vez.

Continua...